terça-feira, 29 de maio de 2007

SAUDADES



Lá se foi mais um dia, um dia daqueles, marcantes na vida de qualquer pessoa.

Um dia em que você acorda com vontade de dormir mais, levanta com vontade de ficar deitada, vai trabalhar com vontade de ficar em casa e assim por diante... Um dia normal, não? - Bem que seria, se eu não tivesse presenciado umas das declarações mais bonitas, verdadeiras e explicitas do que é o tal sentimento: SAUDADE!

Estive hoje, aceitando, com todo prazer, o convite de uma pessoa muito especial na minha vida (é muito egoísmo da minha parte falar isso de uma pessoa que é especial na vida de tanta gente), no ato ecumênico que homenageou as 154 vitimas do vôo 1907, aquele trágico acidente com o avião da Gol, e posso jurar a vocês que estar naquele lugar foi uma das coisas mais marcantes da minha vida.

Logo na chegada me depararei com uma senhora, bem branquinha e velhinha, daquelas que são até rosadas, e ela chorava e chorava, olhando pra cima, para o céu, parecendo, mesmo tendo se passado oito meses da tragédia que marcou o Brasil e o mundo, não acreditar naquilo que tinha acontecido. Obviamente não sei por quem ela chorava, mas conseguia sentir a sua dor, e mais, consegui sentir de verdade o que era saudade... Na verdade rememorei esse sentimento, que por tantas vezes já me atormentou.

Fomos andando bem pro meio do anfiteatro do Jardim Botânico, em Brasília (a propósito, é um lugar belíssimo de se conhecer, vale a pena), e começamos a visualizar vários rostos, de todos os tipos, pessoas com todos os sotaques do Brasil movidos por um único sentimento, e foi por esse sentimento que valeu a pena saírem de tão longe e estarem ali reunidos. Todos eles estavam loucos, mortos de saudades de pessoas queridas que fizeram e ainda fazem, de alguma maneira, parte da sua vida. Foi a saudade sim que os levou ali, foi a possibilidade de tentar amenizar a falta que aquelas pessoas tão amadas lhes faz que os motivou a estarem presentes naquele momento, dividindo assim esse sentimento, que é tão individual, com os familiares de tantas outras (pessoas)...


Já sentados, começamos a ouvir uma bela melodia, que vinha de um grupo de musicos que faziam a apresentação naquele local, e as pessoas caladas, com a saudade sufocando o peito, escutavam atenciosamente o som calmo que ecoava naquele lugar triste e frio (literalmente, porque ventava muito e a temperatura caía a cada momento), dava quase pra sentir as batidas daqueles tantos corações aflitos, saudosos. Corações repletos, cheios de amor e saudades...

Continuou a solenidade e as lágrimas não paravam de cair, nem cheguei a conhecer a homenageada por nós - Marina, mas chorava porque conseguia me colocar no lugar daquelas pessoas que perderam pessoas tão queridas e que estavam tomadas por esse sentimento que eu insisto em redizer: a danada da saudade.

Muitas homenagens bonitas até o fim do ato, e dentre elas a inauguração de uma placa com todos aqueles nomes, que se eternizaram, ali, naquele momento. Repito – vale a pena ir ao lugar – Com certeza serão momentos de reflexão da vida.

Sentir saudade é bom? É ruim? Nem sei, sabe! Só quem sente sabe dizer alguma coisa sobre aquele momento, que às vezes parece não acabar nunca.

É bom sentir saudades do cheiro da pessoa amada e poder “cafungar” no seu cangote;
É bom sentir saudades do beijo da avó, que mora longe e viajar pra poder dar aquele beijo estalado na bochecha, bem gostoso;
É bom sentir saudades de um amigo, quando já estamos o aguardando no aeroporto;
É bom sentir saudades da sua cama, quente e arrumadinha, quando já estamos abrindo a porta do quarto;
É bom receber uma ligação do filho dizendo: mamãe, cadê você, já estou com muita saudade, e de repente abrir a porta e dar aquele abraço nele, sorrir e dizer: - a mamãe já estava aqui pertinho;
É bom receber uma mensagem do amor da sua vida, no celular, num momento não esperado, quando nela tem só uma palavra escrita: SAUDADES...

Essas e outras saudades são até boas, nos fazem viver com mais emoção, porque elas nos trazem boas recordações, mas as ruins, é bom que nem comentemos, vai dando um aperto no coração, aquele aperto de saudades... Vocês sabem do que estou falando? Não é? Risos...

Algumas vezes sinto tanta saudade que chego a pensar que vou morrer, mas depois passa, ou diminui, ameniza, me faz respirar melhor. Por que saudade tira o ar, saudade deixa mal, saudade dói muito (alias, essa é uma comunidade com milhares de pessoas no Orkut – aquele site de relacionamentos beeeem famoso).

Tem uma musica do Chico Buarque que fala da saudade com muita propriedade, vou postar um pedacinho dela pra podermos dividir esses momentos, hora tristes, hora felizes...


...Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi...
(e por ai vai)

5 comentários:

Unknown disse...

Euzinha:

Essa foto foi tirada por mim, num dia maravilhoso, com o amor Ze, na fazenda Pedra Grande. Fala ai, boa fotografa, ne?

Cacá disse...

Linda, adorei essa sua homenagem, que também foi bem bonita;

Beijos Cacá

Antônio Padilha disse...

Adorei, Débora.. Gosto muito dessa outra parte tb:

Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Olívia disse...

Adorei seu texto Débora!
vc descreveu muito bem todo o clima de saudade de ontem!
Beijinhos linda!

. disse...

Linda, está lindíssimo! Fala da saudade com sentimento mesmo!

Um beijão,
Ju

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